domingo, novembro 24, 2024
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Acessibilidade: Maricá ganha novos rumos para pessoas com necessidades especiais

Acessibilidade: Maricá ganha novos rumos para pessoas com necessidades especiais. Fotos Sheila Guimarães

Nada como perceber e atender às necessidades dos clientes. Uma visita do campeão paraolímpico Clodoaldo Silva à loja Sebastian Informática acabou gerando uma benfeitoria da parte do dono do estabelecimento.

O empresário tomou a iniciativa de construir uma rampa de acesso no estabelecimento depois de ver a dificuldade do  cliente ao chegar para ser atendido.  “Ele chegou na loja eu estava atendendo um cliente e observei que teve uma movimentação na frente. Como ele (Clodoaldo) era cadeirante, teve uma dificuldade, porque antes da rampa tinha um ressalto. Ele entrou super agradável, uma pessoa maravilhosa. No momento que ele saiu houve dificuldade. Conversando com o Diego, nosso parceiro, e eu falei: “a gente tem que fazer uma acessibilidade”. Fiquei com aquele nó na garganta”, lembrou Sebastian.

No mesmo dia, a questão foi resolvida. “Diego conversou com o pessoal da prefeitura que fazia uma obra próxima e em dois dias eles tiveram aqui e em três horas eles resolveram. Ficou além das minhas expectativas”, comemorou Sebastian.

Clodoaldo Silva mora em Maricá desde o final de 2020, mas frequenta a cidade desde 2018. Conheci uma amigas que tem um projeto muito legal chama-se coletivo Construindo Pontes e comecei a fazer trabalhos pontuais em Maricá. Por isso eu comecei a conhecer a cidade. Gostei tanto que acabei me mudando para cá”, contou o ex-nadador paraolímpico. “Eu sempre que eu tive a oportunidade, mesmo quando não me perguntavam, eu falava das minhas competições, das minhas medalhas, das minhas emoções, mas eu sempre batia na tecla da acessibilidade. Por que eu fazia questão de fazer isso? Porque eu sou cadeirante, eu tenho paralisia cerebral, foi de nascimento, falta de oxigenação, e pra ir à escola, pra ir à fisioterapia, pra fazer qualquer coisa, eu sempre tive essa dificuldade de acessibilidade”, disse o ex-atleta.

Para Clodoaldo, a missão agora é outra. “Parei de nadar em 2016, foram cinco Paraolimpíadas, – Sidney, Atenas, Pequim, Londres e Rio de Janeiro – foram seis ouros, seis pratas e dois bronzes. Tive a oportunidade de acender a Pira dos Jogos Rio 2016, na cerimônia de abertura eu fui o privilegiado de poder participar desse momento e foi em 2016 também me aposentei das piscinas. Porque na piscina eu já tinha ganhado tudo que eu tinha que ganhar. Quando eu entrei na natação, o esporte paraolímpico não tinha visibilidade, não tinha investimento, quando eu saí, 18 anos depois, era outra coisa”, disse.

O ex-atleta que continuar a levantar a bandeira da acessibilidade. “Porque na piscina eu já tinha ganhado tudo que eu tinha que ganhar. Quando eu entrei na natação, o esporte paraolímpico não tinha visibilidade, não tinha investimento, quando eu saí, 18 anos depois, era outra coisa. Agora eu tenho outra missão aqui fora. É a bandeira da questão da acessibilidade, da inclusão. Depois que eu parei de nadar eu comecei a carregar essa bandeira muito mais”, disse.

Clodoaldo recebeu com grande felicidade a notícia da sobre a iniciativa da Sebastian Informática. “Uma dessas alegrias que eu senti foi justamente hoje, vindo aqui no Sebastian (Informática) pra ajustar um HD. Quando eu vim, não tinha rampa, eu até vi essa falta de acessibilidade, mas fui muito bem tratado e não comentei. Eles me ligaram e falaram: “Nós vamos fazer a rampa”. E não ficou na promessa, foi realizado”, comemorou.

A assistente social Simone Capela, especialista na área de inclusão e acessibilidade,  atua prestando consultoria há mais de 10 anos. Ela esteve à frente da Secretaria de Acessibilidade de Niterói, referência na questão. “Quando a gente fala de acessibilidade, a gente inclui as pessoas com deficiência. As pessoas associam ‘acessibilidade’ à pessoa com deficiência e mais especificamente o cadeirante. A gente tem que pensar em acessibilidade para o deficiente visual, pra pessoas com falta de audição, então a gente precisa implementar essa política de inclusão e acessibilidade no sentido macro da palavra. Acessibilidade tem que vir junto com a palavra autonomia, que faz com que a pessoa consiga o ir e vir sozinho. Maricá é uma cidade que está se revitalizando. Nós que lidamos com o público temos que ter esse olhar e cobrar, mas cobrar o correto, a gente tem a norma BNT 9050, que dá todos os parâmetros dessa construção, porque não seguir? Se Maricá seguir a norma, com certeza a gente vai ser referência em acessibilidade e inclusão”, disse.

Simone Capela ainda ressaltou a necessidade de um centro de reabilitação em Maricá. “Uma outra questão em Maricá é a gente pensar num espaço de reabilitação na cidade. Eu vejo Maricá hoje com uma demanda muito grande, principalmente de jovens. A gente precisa pensar em um centro de reabilitação pra atender principalmente essa juventude. Pensar na questão de mercado de trabalho”, disse.

Ela lembra que moradores da cidade acabam buscando ajuda em outro município. “Eu sou coordenadora do Centro de reabilitação da Andef (Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos), em Rio do Ouro,  e atendo muita gente de Maricá. Inclusive essa semana eu estou com três avaliações de inclusão de jovens que sofreram acidente em Maricá. É um número muito alarmante de pessoas que saem daqui pra ir buscar reabilitação em Rio do Ouro, que é longe. A pessoa já tem a dificuldade da falta de acessibilidade, ainda tem que sair do seu município pra buscar atendimento em outro município. Seria um gol de placa…”, avaliou.

 

Calçadas Acessíveis

Nesta segunda-feira (05), a  Prefeitura de Maricá lançou o programa ‘Calçadas Acessíveis’, iniciativa coordenada pela Secretaria de Urbanismo que irá padronizar as calçadas já existentes na cidade e as futuras construções. O projeto, que tem parceria da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), é orientado por normas técnicas voltadas para a inclusão, qualidade de vida e otimização dos deslocamentos urbanos.

O convênio prevê, principalmente, a continuidade do programa Maricá Acessível, que visa melhorar a qualidade do logradouro público, tornando-o acessível, livre e com ausência de barreiras. A celebração contou com a presença do presidente da Firjan Leste Fluminense, Luiz Caetano. De acordo com ele, a parceria com o município acontece em um momento oportuno por conta da revisão do plano diretor.

A renovação do nosso convênio e retomada de projetos como o das calçadas acessíveis se torna muito importante nesse momento, principalmente agora em que Maricá passa por uma revisão do plano diretor. É uma tradição para nós sermos parceiros da Prefeitura de Maricá, inclusive para nós é um privilégio contar com o município no avanço e desenvolvimento de melhorias para empreendedores e moradores da cidade”, explicou o presidente Luiz Caetano.