Universidade do Carnaval é inaugurada em Maricá com cursos gratuitos
Em pleno coração da Região Metropolitana do Rio, Maricá acaba de se lançar ao protagonismo nacional com um feito inédito: a criação da Universidade Livre do Carnaval (UniCarnaval), primeira instituição do mundo voltada exclusivamente à formação de profissionais da maior manifestação cultural brasileira. A inauguração aconteceu nesta sexta-feira (16/05), com clima de festa, batuques e discursos emocionados, na quadra da escola de samba União de Maricá, que fica às margens da RJ-106 — um território simbólico onde a folia se transforma em sala de aula.
A iniciativa, que mistura o saber popular do barracão com a pesquisa acadêmica, nasce sob a batuta de nomes de peso: o carnavalesco Milton Cunha, que assume a reitoria, a rainha da Mangueira Evelyn Bastos e o Vovô do Ilê, lenda viva do bloco afro Ilê Aiyê da Bahia. Juntos, eles compõem uma reitoria que carrega não só expertise técnica, mas um legado de luta e resistência pela valorização da cultura negra e popular.
Com mais de 60 formações previstas, entre cursos livres, técnicos e, futuramente, superiores, a UniCarnaval surge com o objetivo de profissionalizar os diversos setores que integram a cadeia produtiva da festa popular. O projeto é uma parceria da Secretaria de Cultura e das Utopias com o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM) e a Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar).
Formação profissional para além da avenida
Durante o evento, a primeira-dama Gabriela Lopes destacou o impacto do Carnaval na economia local e na vida de quem trabalha com a festa ao longo do ano. “Para o folião, a festa dura quatro dias, mas para quem trabalha com Carnaval é o ano inteiro. São pessoas que sustentam famílias. Criar uma universidade em Maricá é investir na formação de profissionais da economia criativa”, afirmou.
Milton Cunha, que assume a reitoria da UniCarnaval, exaltou a iniciativa da Prefeitura de Maricá. “A Universidade Livre tem os saberes da cultura afro, dos batuques e do povo que faz o Carnaval. Vamos reunir pesquisadores nacionais e internacionais para estudar a grandeza da cultura popular”, disse.
A universidade também contará com a parceria da Rede Brasileira de Estudos do Carnaval (Rebeca), que atuará no aprofundamento acadêmico e na pesquisa sobre o tema. Segundo o secretário de Cultura e das Utopias, Sady Bianchini, o objetivo é transformar Maricá em uma referência internacional no desenvolvimento e estudo do Carnaval.
Início dos cursos em junho
As aulas começam em junho, com atividades distribuídas entre a sede da UniCarnaval, a quadra da União de Maricá (ambas no Centro), a Casa Carnavalesca em São José do Imbassaí e nos condomínios do Minha Casa Minha Vida em Inoã e Itaipuaçu.
Os primeiros cursos confirmados são de aderecistas, com início previsto para 23 de junho em São José do Imbassaí, e uma pós-graduação em Gestão de Carnaval, que acontecerá na sede da universidade. Também estão previstas formações livres em gestão, produção, cenografia, croquis, fantasias e outros aspectos técnicos do desfile.
A UniCarnaval ainda pretende formar novos mestres-salas e porta-bandeiras, além de criar uma escola de samba mirim, com oficinas para ritmistas e integrantes infantis nos condomínios populares da cidade.
Segundo Renato Figueiredo, consultor pedagógico da universidade, as atividades para o público infantojuvenil serão fundamentais para fomentar a cultura carnavalesca desde cedo. Já o presidente do ICTIM, Cláudio Gimenez, destacou que a instituição vai evoluir da qualificação básica até o ensino superior. “O aluno poderá iniciar em cursos técnicos e alcançar a graduação, tudo dentro da área do Carnaval”, explicou.
Maricá será tema do Ilê Aiyê em 2026
Durante a inauguração, o Vovô do Ilê anunciou que Maricá será o tema do Ilê Aiyê no Carnaval de Salvador em 2026. Ele afirmou que o bloco afro trabalhará junto à UniCarnaval na capacitação de profissionais que atuam nos bastidores dos desfiles, como costureiras, ritmistas e operários dos carros alegóricos.
Evelyn Bastos, também reitora da universidade, emocionou-se ao lembrar de sua vivência no Morro da Mangueira e reforçou a importância da iniciativa. “Vi o samba matar a fome e resgatar a autoestima. A Universidade do Carnaval é um projeto transformador e será inspiração para o mundo inteiro”, declarou.
O evento foi encerrado com apresentação da bateria e de integrantes da escola de samba União de Maricá, celebrando o início de um novo capítulo na história do Carnaval brasileiro.