Vida mais saudável!
Cada vez mais as pessoas estão buscando um estilo de vida saudável. Mas não basta frequentar academia, praticar esporte e só comer verduras. Hoje, o que todo mundo quer é saber também de onde vêm essas verduras, o leite, as geleias e tudo o que se refere à alimentação. Para ajudar nessa busca, as cidades de Araruama, Saquarema e Maricá oferecem feiras de agricultura familiar e de produtos orgânicos. São produtores rurais, que plantam, colhem e têm o cuidado de oferecer suas mercadorias com todo amor e carinho para o consumidor.
Em Araruama, a feirinha acontece às quartas-feiras na principal praça da cidade, reunindo pequenos produtores, que têm no evento uma forma de complementar sua renda. A prefeitura ajuda com transporte e até fornece sementes e mudas para incentivar o cultivo. Todos são unânimes em dizer que a feira é uma grande oportunidade de venda. Iara, de 26 anos, vende maracujá, farinha de tapioca, doces caseiros e araruta. Trabalha com os pais, eles plantam e ela vende, além de fazer os doces.
Juraci de Souza, de 60 anos, leva tudo que produz no quintal. “Eu trago para a feira as coisas que produzo no meu sítio, como laranja e verduras. Frango eu não trago porque fico com medo de não vender, mas tenho para trazer e aceito encomendas. Para mim essa iniciativa está sendo ótima, pois já dá para eu tirar um dinheirinho, que ajuda bastante.”
Esse pensamento do “ajuda bastante” é compartilhado por outros participantes como Lucinda Gomes, Marlete, Marli e Martinho. Eles vendem rúcula, temperos como salsa e coentro, guando, ovos caipira e adoram a feira. Martinho trabalha com mel e geleia real.
“Eu trabalho só com mel, geleia real, polen, própolis. O espaço aqui é muito bom. Apesar do pouco movimento porque a feira é nova ainda, eu tenho vendido bem, arrumado uma boa freguesia e eu estou feliz de estar aqui”, garante.
A Feira de Agricultura Familiar de Araruama tem também cestarias, cana e plantas, como mudas de hortaliças. “Estou aqui com mudas de hortaliças, flores, ervas medicinais. Eu acho um espaço bacana e que está dando também condições aos moradores de fazer alguma coisa pela própria saúde, através de uma alimentação saudável”, conta dona Eva, de 48 anos.
Quem mora em Saquarema e busca uma alimentação saudável tem encontro marcado todo segundo sábado de cada mês com os agricultores locais, que levam seus produtos para feira idealizada por um grupo de produtores orgânicos e certificados pela Associação Brasileira de Produtores Orgânicos. A maioria saiu do Rio para viver de maneira mais tranquila e saudável na capital do surfe. A variedade de alimentos é grande como conta a oceanógrafa Flávia Nogueira, proprietária de um sítio na serra do Mato grosso:
“Nós viemos morar no sítio e começamos a fazer plantação orgânica. Nós começamos a fazer cursos e a colocar em prática o que aprendemos. Nós trazemos banana, aipim, coco seco, coco verde, açaí, cana. Nós estamos completando quase um ano de feira e vemos a clientela voltando todo mês, buscando nossos produtos. Cada vez está sendo melhor o movimento. Sempre tem uma troca de experiência com o público porque muita gente mora em casa e tem uma hortinha. Muitos clientes também se interessam por visitar nosso sítio para conhecer a plantação.”
Outra que resolveu mudar de profissão foi Isaura Liberal, do Sítio Madressilva. “Eu tenho verduras, ovos, abóbora. Eu era decoradora, mas tinha cavalos, eu montava. Quando eu vim morar aqui, trouxe meus cavalos e comecei a dar aulas, entrei no grupo dos orgânicos e estou muito feliz”, conta Isaura. O agricultor orgânico João Paulo conta um pouco da trajetória do grupo:
“A gente tem um sítio em Sampaio Coreia e a gente se juntou com outros produtores aqui do município para fazer essa feirinha mensal. A gente produz bastante banana, aipim, hortaliças, cenoura, alface, berinjela e aos poucos a gente está aumentando esse movimento aqui na região e tentando firmar uma feirinha semanal. A gente trabalha com sustentabilidade, não usa agrotóxico, nenhum tipo de alimento transgênico. Essa feirinha é uma maneira de levar alimento direto do produtor para a mão do consumidor. A feira vai fazer um ano em outubro e a expectativa é que já passe a ser quinzenal. A resposta dos clientes está sendo muito positiva, eles já estavam esperando isso. Saquarema é uma cidade de praia, a gente veio apostando muito no turista, mas a gente está vendo que o público que está segurando a feira são os moradores, que vêm bicicleta ou caminhando. Isso está sendo uma surpresa positiva. Muitas pessoas perguntam sobre o cultivo e a gente acaba fazendo uma consultoria. Com isso, a gente acabou trazendo mudinhas também para vender e tem tido uma saída boa também.”
Moradora há pouco mais de um ano de Saquarema, Ane Melo também fala de sua experiência com a natureza. “Eu vim para Saquarema para buscar essa vida mais tranquila, mais leve, poder colher o que eu planto. Eu abri na minha casa um restaurante vegano, onde eu estou sempre tentando buscar produtor orgânico para poder passar para o meu cliente também uma alimentação que eu sei de onde vem, sem veneno, sem pesticida, nada que vá fazer mal para a pessoa porque eu não quero fazer mal para ninguém. As pessoas se alimentam mal, ficam doentes, tomam remédios, mas continuam se alimentando mal e ficando doentes. As pessoas precisam se alimentar de forma correta”, afirma Ane.
Na feira não encontramos apenas os produtos in natura. Há quem venda também sabonetes, desodorantes, ervas desidratadas. Tudo muito natural como explica Luiz Valter, dono do Sítio do Galo, em Sampaio Correia:
“A gente produz principalmente in natura, mas a gente faz também alguns produtos da roça, tipo sabonete, desodorante natural, que a minha mulher faz. É a parte de fitocosméticos. A gente desidrata muitas ervas, tem muito chá e faz muita muda também. Tanto eu como a minha esposa éramos professores da área de computação da Universidade Federal Fluminense. A gente tem essa propriedade há muitos anos e nosso sonho era se aposentar e se dedicar ao sítio. Já tem seis anos que estamos aqui. Nosso sítio é certificado como orgânico, é uma propriedade pequena, mas muito produtiva.”
Doces, geleias e conservas também podem ser encontrados na feirinha. “Nossos principais produtos são os doces, geleias e conservas que produzimos. Mas a gente também produz in natura, tudo certificado e a gente traz aqui para feira as duas coisas. Temos uma lojinha em Itaúna, onde a gente processa as frutas. Sou professora e chefe de cozinha, mas hoje em dia estou mais para produtora rural, é o que está me agradando mais. A gente sempre teve esse sonho de sair da cidade e vir para o campo. Quando meu marido se aposentou a gente já tinha o terreno. Então viemos realizar nosso sonha”, conta Cris Santamarinha.
A produtora Fernanda Pontual explica também como é feita a certificação:
“A feira foi criada por nós, que somos um grupo de produtores certificados. A gente faz parte de uma associação que se reúne uma vez por mês. São vários sítios aqui de Saquarema que participam. Nós temos muitos produtos, como vários tipos de banana, jurubeba, hibisco. Eu sou bióloga, mas sou ligada à terra. Atualmente, somos sete no grupo. Quem dá o certificado é a Associação dos Produtores Biológicos do Rio, que tem o aval do Ministério da Agricultura. É um processo de autocertificação. A gente faz a fiscalização dos sítios e todo ano, todos os sítios são vistoriados. No certificado vem a descrição de todos os produtos, é uma garantia de que o produto foi vistoriado.”
O município de Maricá também aderiu à feira de produtores e todo domingo a principal praça da cidade, a Orlando de Barros Pimentel, fica mais colorida com os produtos cultivados na região. A iniciativa é da Prefeitura, por meio da Secretaria de Economia Solidária, com apoio das pastas Geral e de Governo, Cultura, de Agricultura, Pecuária e Pesca, Turismo e de Conservação. A Feira Livre Solidária tem o objetivo de se tornar um espaço para o produtor de Maricá escoar sua produção, além de disponibilizar para os consumidores mais uma opção de produtos de qualidade e com preço justo. Segundo o prefeito Fabiano Horta, o município quer resgatar a feira livre como espaço comum de pertencimento da cidade, das pessoas e do encontro. “Reunimos dezenas de produtores locais, artesãos, gente que tem se cadastrado na Economia Solidária de Maricá tentando encontrar a dinâmica de uma nova economia que seja mais de todos, mais igual, onde todo mundo possa ter a oportunidade de oferecer o seu produto”, afirma o prefeito.
A desenhista industrial Bárbara Geone aprovou a iniciativa da prefeitura. “O resgate da feira é muito legal porque favorece o pequeno produtor da nossa cidade e é uma coisa que a gente vem buscando, que é comprar dos pequenos produtores, sair um pouco do grande comércio e movimentar a economia da cidade. A gente teve uma experiência de morar na França e o que a gente comprava lá, a gente sabia em que país foi produzido, o que foi usado, se usou ou não agrotóxico. E aqui a gente não sabe de onde veio. Agora, aqui na feira, a gente tem oportunidade de falar direto com o produtor e saber como foi feito”, afirma.
Confeiteiro de formação, Marcos Meireles mora há dez anos em Maricá e integra o grupo de feirantes. “Agora trabalho com essa parte de geleias e doces em compotas. Todos os meus doces são naturais, sem conservantes ou aditivos, nenhum tipo de química. Não são orgânicos porque eu não compro todos os produtos orgânicos, então não uso essa classificação. Mas são produtos caseiros, que trazem essa qualidade, com gosto de casa de vó. Eu resgato alguns produtos antigos como ambrosia, meu doce de leite não é feito com leite de caixinha. Isso tudo garante qualidade e sabor diferenciado”, afirma.
Autodidata, o agricultor orgânico Heitor Juliano oferece aos seus clientes uma alternativa bem natural. “Eu trabalho com jardins comestíveis não convencionais. São plantas comestíveis não convencionais, que você não encontra em qualquer lugar, não tem valor comercial muito divulgado. Também estudo as plantas medicinais. Trabalho com plantas que não têm efeito colateral nenhum, elas só vão te curar mesmo. Algumas servem para fazer a manutenção da sua saúde, pois contêm Ômega 3, antioxidantes para combater os radicais livres e ajudam a melhorar quadros de doença. A feira é um ótimo espaço para divulgarmos o nosso trabalho”, garante Heitor.
Outro que está aprovando a feira é João Pedro Padilha (Da Terra). Morando há pouco tempo na cidade, João é só elogios. “Trabalhamos com hortifruti, começamos agora aqui na praça num momento muito bom pra cidade. Sou de Mato Grosso do Sul e estou adorando morar aqui, uma cidade bem tranquila. Eu moro num sítio e produzo alface, tomate, folhas”, conta.
A feira agrada não só aos produtores, mas principalmente aos freqüentadores. Suzana, que mora no Centro, está feliz em poder diversificar suas receitas. “O que mais me chamou a atenção foi apresentação dos produtos que vêm com a rama. Eu posso colocar a beterraba no feijão e usar a rama em outra receita. Então a gente utiliza o produto inteiro, não só o que está acostumado a comprar no mercado ou no sacolão”, comemora.
Cristel Tieder e a portuguesa Isaurina Piloto também adoram passear na feira depois da missa. “ Toda cidade tem que ter uma feira e faltava isso em Maricá. As frutas e verduras eu acho ótimo e numa feira não pode faltar pastel. Então domingo a gente vem em turma para comer pastel. É tipo uma terapia”, afirmam as amigas.
Para facilitar ainda mais a vida de produtores e consumidores, há uma barraca na feira para os produtores se inscreverem, como explica Natália Cemarela, gerente do Banco Mumbuca:
“Atualmente, nós temos três bancos na cidade, no Centro, Inoã e Cordeirinho e estamos desde setembro do ano passado fazendo a implantação do aplicativo e-dinheiro para utilização da moeda social. Esse aplicativo é a plataforma utilizada pela rede nacional dos bancos comunitários e agora está sendo utilizado aqui em Maricá. Para os participantes poderem vender utilizando a moeda social, a gente foi em reuniões, eles se cadastraram e é diretamente pelo aplicativo. Qualquer agricultor ou artesão aqui da feira que queira participar é só nos procurar, só precisa de identidade e CPF. Essa também é uma forma de inclusão.”